sábado, 23 de novembro de 2013

O mar que ficou

O mar entrou na minha vida,
Trazendo ao que antes só era rio
O sobressalto de suas impetuosas vagas,
A taciturna nostalgia dos marinheiros,
A amargura de suas águas alucinadas.
Ofereceu-me os sinuosos caminhos da poesia,
Os incompreendidos sonhos dos desterrados,
E os horizontes imensos e distantes
Por onde meus olhos desamparados
Podem escapar e encontrar descanso.
Como dádiva por minha devoção, 
Prometeu fascinar-me com sua imensidão,
Com a maestria com que adorna a noite,
Com a sutileza com que reflete o luar,
Com a paciência com que espreita a chuva,
Com as ondas mansas que fico a contemplar.
Trouxe-me a expressão de um olhar vadio
E a vontade imensa de voltar
Ao tempo de quando só era rio,
Tudo o que agora só é mar.