quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Homenagem à minha querida cidade

Minha amada cidade, aquela que um dia melhor atendeu pelo nome de Santa Maria de Belém do Grão-Pará, em 12 de janeiro de 1616, tornou-se o mais novo rebento deste novo mundo, que pouco mais de 100 anos antes fora desbravado pelos homens do velho continente.

Caravelas lusitanas, sob o comando de Francisco de Caldeira Castelo Branco, nessa data, fizeram desabrochar, às margens da Baía do Guajará, aquela que séculos depois ficaria conhecida como flor do Grão-Pará, a cidade que por muito tempo foi a mais portuguesa das cidades brasileiras e que, juz a isso, teve o nome de Feliz Lusitânia como seu primeiro.

E esta flor cresceu, cheia de beleza e viço. Criou identidades e tradições próprias. Sua gente mestiça insurgiu-se contra o status quo de arbítrio e espoliação aristocrata, na Revolta da Cabanagem. A cidade cresceu, esbarrando nos rios e sem poder fugir por eles.

Minha querida cidade, apesar da sua calidez equatorial, alivia seu povo com a sagrada chuva, que nos banha e inspira. Chuva que canta uma melodia que só o filho desta terra conhece. Há quem diga que chuva é a mesma em qualquer lugar, mas o belenense desmente: "aqui ela cai o ano todo sem que nos cause desgraças, é uma dádiva dos céus, aqui ela acerta o ponteiro de seus relógios com os nossos. Por isso ela é especial".

Nasci nesta terra. Nesta cidade cercada de rios e coberta de túneis de mangueiras pelas ruas. Se houver no planeta uma longínqua civilização, que tem as "mangueiras" como objeto de veneração, como seus deuses, não tenho dúvida de que Belém seria a sua "Meca", aonde cada um dos indivíduos desta civilização, teria o dever de ir ao menos uma vez na vida. O que lhe faz honrar a alcunha de "Cidade das Mangueiras".

Na minha cidade, os rios que a banham falam comigo, e sempre que estou confuso vou até eles. Eles sempre têm algo a dizer-me.

Minha cidade revelou a mim seu grande valor, na maioria das vezes e paradoxalmente, quando eu estava longe dela. Quando estava longe, mostrou-me o quanto os filhos desta terra têm idiossincrasias tão próprias, e eu nunca havia percebido.

Minha terra, ensinou a metade de nós (a mim, inclusive) a torcer pelo Clube do Remo e a outra metade, a torcer pelo Paysandu. Me ensinou a chamar de "pai dégua!" tudo o que é excelente, maravilhoso e fascinante, e a dizer "égua!" sempre que me surpreendo, positiva ou negativamente com algo.

Para não dizer que não falei de espinhos, como toda metrópole, quer seja de nível mundial, nacional ou regional, ela também tem muitas contradições, sobretudo sociais. Sem que isso absolva possíveis responsáveis, entendo que, em certa medida, é também uma inerência de pertencer a um mundo doente.

Minha cidade, ensinou-me acima de tudo, a amar-lhe com o coração.

Vida longa à Flor do Grão-Pará!

Feliz 396 anos.