quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Saudades de um grande amigo

Estes dias estive pensando num grande amigo que se foi e no quanto ele faz falta por aqui. Não estou dizendo que morreu, ele apenas se foi, não importa pra onde foi. Não sei ao certo. Às vezes, as pessoas se vão, porque chega a hora de ir e ponto final. Esta atitude de querer alguém querido sempre perto não passa de uma invenção humana, egoísta, que muitas vezes nada tem a ver com apreço pela liberdade plena. Ele se foi porque sentiu que era hora de "desenhar seus próprios pés na areia inexplorada", como diria o poeta José Régio. Ele tinha uma risada contagiante, falava muito, inspirava minha admiração ao falar, apreciava a cultura, e tinha algum, ainda que parco, talento pra escrever. O seu talento para escrita era modesto mesmo, jamais lhe renderia qualquer prêmio, mesmo o mais mediano, mas era o suficiente pra que ele andasse com a poesia pendurada no pescoço, retendo-a discretamente, para quando menos se esperasse, desgarrá-la pelo universo, surprendendo e fascinando os mais próximos. Não era um talento de berço, ele tinha acessos pontuais de talento, era diferente. Ele escrevia com a alma, sua sensibilidade era tamanha que seus cinco sentidos se misturavam, sem que a descrição de suas percepções perdesse qualquer fidelidade. Além dos 5 sentidos, ele tinha um outro, que eu chamava de "acuidade filosófica", ele ria dessa nomenclatura. Tal sexto sentido, era o de extrair filosofia de tudo, até das coisas mais ignoráveis, como um cinzeiro, um guarda-chuva ou até mesmo uma bola de boliche. Tudo que havia, quer seja de concreto ou de abstrato, no mundo a sua volta era inescapável à sua acuidade filosófica. Às vezes sinto que esse grande irmão vai voltar, não que ele assim prometa, pelo contrário ele prefere que eu perca as esperanças. Eu o entendo. Entendo com poucos essa estranha, fascinante e invencível força que nos convida a desbravar outras plagas. Não espero que ele volte, o importante é que o melhor de suas lições e virtudes, permanecem comigo.
Ah...o nome dele é Policarpe di Emili.

Abraços.